Microbiota oral e saúde mental: o que a sua boca tem a ver com o seu bem-estar emocional?

Saúde mental

Pode parecer estranho à primeira vista… mas a ciência tem mostrado que a saúde mental pode ser influenciada por mecanismos que começam muito além do cérebro — e, surpreendentemente, um deles é a boca. Não é só o intestino que se comunica com o cérebro. A cavidade oral — que abriga mais de 700 espécies de microrganismos — também tem um papel ativo neste diálogo. Ela está diretamente conectada a dois eixos fundamentais: o intestino e o cérebro. Um estudo publicado em 2025 na revista Microorganisms investigou esse chamado eixo oral–intestino–cérebro e mostrou que inflamações originadas na boca podem desencadear respostas inflamatórias em todo o corpo — inclusive no cérebro. Ou seja, a boca fala com o cérebro — e, às vezes, o que ela diz é inflamatório. Bactérias da boca e o impacto no cérebro Entre os microrganismos orais potencialmente patogênicos que se destacam nesse processo estão Porphyromonas gingivalis, Fusobacterium nucleatum, Streptococcus mutans e Prevotella intermedia. Essas bactérias podem liberar substâncias inflamatórias — como lipopolissacarídeos (LPS) e enzimas — que entram na circulação sistêmica. Em contextos de *inflamação crônica, essas toxinas podem atravessar a *barreira hematoencefálica (BBB) e afetar o sistema nervoso central. Os estudos revisados sugerem que, uma vez no cérebro, esses compostos: E o resultado? Essas alterações foram relacionadas a sintomas como ansiedade, depressão, fadiga mental, alterações de humor e até Alzheimer — condição em que P. gingivalis foi identificada no tecido cerebral de pacientes. Microbiota oral e saúde mental: a conexão com o intestino O estudo também mostra que *cerca de 45% das bactérias do intestino vêm da boca. Ou seja: o desequilíbrio começa em cima e segue sua rota até o intestino — onde pode *colonizar, reduzir a diversidade microbiana, competir com bactérias benéficas e alterar a produção de SCFAs (ácidos graxos de cadeia curta), como o butirato. Isso *afeta diretamente a integridade da barreira intestinal, favorece o aumento da permeabilidade (“leaky gut”) e *desregula a produção de neurotransmissores — criando um ambiente pró-inflamatório que pode interferir em vias relacionadas à saúde mental e à cognição. Além disso, outro artigo de revisão publicado na Microorganisms (2024) reforça que a translocação de bactérias orais por vias hematogênicas ou entéricas pode contribuir não só para alterações neuroinflamatórias, mas também para *doenças cardíacas, endócrinas, gastrointestinais, autoimunes e até câncer. Ou seja, embora o foco aqui seja a mente, *os impactos da microbiota oral vão muito além. Como cuidar da microbiota oral para proteger a saúde mental Se a disbiose oral pode influenciar a saúde mental, também existem caminhos para restaurar o equilíbrio — e é a partir das evidências que a ciência já mostrou que a gente pode agir no dia a dia: • Higiene oral com consciência O uso excessivo de antissépticos bucais (mais de duas vezes ao dia) reduz a diversidade microbiana e favorece bactérias ligadas à inflamação. Prefira uma higiene equilibrada, que preserve as bactérias boas. • Alimentação rica em fibras e vegetais Dietas ricas em fibras favorecem a *produção de ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs), como butirato e propionato, que têm *efeito anti-inflamatório e ajudam a proteger o cérebro. Frutas, verduras, leguminosas e alimentos fermentados são grandes aliados nesse processo. • Redução de açúcar e ultraprocessados Bactérias como S. mutans e P. gingivalis, que estão ligadas à *neuroinflamação, crescem mais em ambientes com excesso de carboidratos fermentáveis. *Diminuir doces e refinados pode ajudar a proteger tanto a microbiota da boca quanto a mente. • Evitar cigarro e álcool Cigarro e álcool *favorecem bactérias patogênicas, *reduzem a produção de saliva e alteram o pH da boca — fatores que aumentam o risco de toxinas inflamatórias chegarem ao cérebro. Reduzir o consumo desses itens é um passo importante para o cuidado integral. • Redução do estresse crônico O estresse afeta o sistema nervoso, o pH salivar e a imunidade local. Ele também *impacta a composição da microbiota da boca. Por isso, *cuidar do emocional é cuidar da biologia — inclusive da saúde bucal e mental. • Probióticos com direção Algumas cepas específicas, como Streptococcus salivarius, L. reuteri e B. bifidum, mostraram *efeitos benéficos na regulação da neuroinflamação e no equilíbrio do eixo mente–microbiota. Com a orientação certa, *podem ser aliadas no cuidado da saúde mental. Leia também sobre a Nutrição Funcional Integrativa

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